04 DE NOVEMBRO DE 2019  MEMÓRIA FESTIVA DE SÃO CARLOS BORROMEU

Cantando eu louvarei o vosso nome e agradecido exultarei de alegria! ” (Sl 68)

Queridos irmãos, aqui presentes!

Esse pequeno versículo do salmo 68, da liturgia deste dia, expressa muito bem o que sinto neste momento. Sou grato, primeiramente, a Deus pela sua infinita misericórdia por ter me chamado a esse ministério e grato pela presença de cada um de vocês, sobretudo alguns de meus familiares (meu pai Joaquim, minhas sobrinhas: Gisele Thaís e Samira e o sobrinho neto: Henrique), celebrando o início desse ministério pastoral na paróquia São Norberto.

Este dia 04 de Novembro de 2019, de agora em diante, reveste-se, para mim, de um significado simbólico profundo, a começar pelo próprio númeroQUATRO (4) que, dentre muitos sentidos, remete às quatro virtudes humanas ou cardeais: PRUDÊNCIA, JUSTIÇA, FORTALEZA E TEMPERANÇA.

Quão são e serão importantes no exercício desse ministério como pároco! Precisaremos da PRUDÊNCIA para discernir juntos, em toda circunstância, nosso verdadeiro bem e escolher os meios justos para realiza-lo. Contaremos com a virtude da JUSTIÇA na constante e firme vontade de dar a Deus e a todos o que lhes é devido. A FORTALEZA que assegura a firmeza e a constância na prática do bem, até mesmo nas dificuldades. Em tudo precisamos de moderação para não nos deixarmos levar pelos afetos desordenados ou por impulsos destruidores da vida em comunidade.

Por detrás deste número quatro (4), podemos decodificar também, outros sentidos: as quatro estações do ano ou as quatro fases da lua, interpretados no sentido existencial: estações do coração ou as fases pelas quais passamos na vida. As quatro noites da salvação. Não é o nosso objetivo agora.

Mas gostaria de destacar decodificando outros sentidos a mim significativos. Trata-se das quatro grandes reformas no âmbito de Igreja, destacando a participação de São Norberto, São Carlos Borromeu, o Papa Franciscoe atuação decada leigo e leiga, numa paróquia, “comunidade de comunidades”.

Primeiro chamaria a atenção paraSÃO NORBERTO E SUA PARTICIPAÇÃO numa das reformas pela qual passou a Igreja, a chamada REFORMA GREGORIANA (séc. XII).

SãoNorberto,” grande entre grandes, e pequenino entre os pequenos”,  é, com razão, contado entre aqueles que mais eficazmente se empenharam na reforma gregoriana: foi o primeiro a querer formar um clero dedicado, ao mesmo tempo, à autêntica vida evangélica e à apostólica, na castidade e pobreza; clero que assumisse “a veste junto com a beleza do homem novo: aquela pelo hábito religioso, esta pela dignidade do sacerdócio“, e tivesse o propósito de “seguir as Sagradas Escrituras e de ter Cristo por seu chefe”. Costumava recomendar-lhe três coisas: “limpeza em relação ao altar e ofícios divinos, correção das faltas e negligências no Capítulo, cuidado com os pobres e a hospitalidade”.

 Para os sacerdotes, que no convento eram como os apóstolos, agregou, à semelhança da Igreja primitiva, tamanha quantidade de fiéis leigos e de mulheres que, muitos afirmavam jamais ter conhecido alguém que, desde os tempos apostólicos, tivesse conquistado para Cristo, em tão pouco tempo, tantos imitadores da vida perfeita em sua instituição.

Feito arcebispo, convocou confrades seus para levarem à fé a região da Lusácia; esforçou-se por reformar o clero de sua diocese, malgrado a agitação e o tumulto do povo.

Teve, enfim, a peito a concórdia entre a Sé Apostólica e o Império, ressalvada, no entanto, a liberdade nas eleições eclesiásticas, firmando-a e ampliando-a, de tal forma que o papa Inocêncio II lhe escreveu: “A Sé Apostólica de coração se congratula contigo, filho dedicadíssimo”. E o imperador o fez arquichanceler do Império.

Tudo lhe vinha da fé intrépida; assim diziam: “Em Norberto, sobressai a fé, assim como em Bernardo de Claraval, a caridade”; e ainda pela graça de suas conversas, que: “sendo grande entre os grandes e pequenino entre os pequenos, se fazia amável a todos”, enfim, na rara eloquência: “com ardente palavra de Deus, queimando os vícios, aguçando as virtudes, enriquecendo com a sabedoria as almas de boa vontade”; e, contemplando as realidades divinas, meditava-as assiduamente e sem temor as difundia. (Da Vida de São Norberto). São Norberto se destaca e é admirável pelo zelo pastoral e pelo espírito de oração.

Em 2021, nós Premonstratenses, estaremos celebrando os 900 anos da Fundação de nossa Ordem. Esse jubileu já está sendo preparado desde 2016 e está ganhando fundamento bíblico, litúrgico e pastoral para o futuro da Ordem no mundo.

É o Espírito Santo quem suscitou nosso fundador, São Norberto, naquela noite de Natal de 1121, juntamente com alguns discípulos a fundar nossa Ordem no vale de Premontré. Quem formou nele as qualidades necessárias para o surgimento de nossa missão e deu-lhe a docilidade de se deixar plasmar. É o Espírito Santo quem guia nossa Ordem para que assuma e desenvolva, com fidelidade o carisma dele recebido; nas origens e agora sua presença é sempre energia atuante e atual.

Outroque gostaria de destacar trata-se do santo deste dia: SÃO CARLOS BORROMEU, BISPO (04 DE NOVEMBRO) E SUA ATUAÇÃO NA REFORMA DE TRENTO (séc. XVI).

São Carlos Borromeu, arcebispo de Milão, pertence aos grandes promotores da renovação na fé e dos costumes sancionada pelo Concílio de Trento. Ele passou à história como tipo ideal e modelo perfeito de pastor, conforme o ideal traçado pelo Concílio de Trento.

Como secretário de seu tio (Papa Pio IV) foi ótimo conselheiro. Muito influiu para que o Papa levasse a termo o Concílio de Trento, que se encontrava num impasse. Terminado o Concílio, Carlos decidiu deixar Roma e fixar-se em Milão, sua diocese, para dedicar-se imediatamente à tarefa da Reforma da Igreja, até morrer esgotado pelas fadigas aos 46 anos de idade.

Como arcebispo de Milão mostrou-se, sobretudo, cumpridor exato dos seus deveres pastorais, e promotor da dinamização da vida eclesiástica na diocese. Incentivou o dever da residência dos párocos, organizou e presidiu vários sínodos diocesanos, promoveu também numerosos concílios provinciais; foi o primeiro bispo a aplicar o decreto do Concílio de Trento relativo à fundação de seminários para a formação cultural e espiritual dos candidatos ao sacerdócio. Favoreceu a criação de escolas para a cultura religiosa e profana. Impulsionou a boa imprensa e, sobretudo, deu incremento à formação catequética dos fiéis.

A esta sua atividade tenaz e corajosa de reforma, toda consagrada à causa da Igreja e à elevação moral dos costumes, São Carlos unia uma caridade extraordinária, que se evidenciou, sobretudo, nos anos difíceis em que a peste se alastrava por sua diocese.

A grandeza da mensagem de São Carlos Borromeu vem expressa na Oração coleta: Ela pede que Deus conserve no seu povo o espírito que animava São Carlos Borromeu, para que a Igreja, continuamente renovada e sempre fiel ao Evangelho, possa mostrar ao mundo a verdadeira face do Cristo. Toda evangelização parte da espiritualidade de quem evangeliza.

O PAPA FRANCISCOse destaca na importante conjuntura eclesial atual na sua desafiante missão de encarnar oCONCÍLIO VATICANO II, e para o continente latino-americano e caribe, via documento de Aparecida, que nos faz pensar numa Igreja de comunhão e participação.

Poderíamos sintetizar sua atuação citando o Sínodo da Amazônia. Vivemos um tempo de Kairós Amazônico no meio de uma conjuntura eclesial e social muito difícil. É tempo de Kairós apesar da dolorosa situação eclesial, com todos os casos de abusos e pedofilia, que exigem uma radical conversão, uma urgente e profunda limpeza e purificação interna. Este tempo do Espírito se dá também no meio da difícil conjuntura político-econômica regional e global, onde a “ditadura do capital” e os extremismos se impõem, sejam de “direita” sejam de “esquerda”, por usar uma linguagem clássica. Como resultado a Política fica de joelho frente à “ditadura do capital”, perdendo-se o horizonte da ética e da honestidade, da justiça e da equidade, da busca do bem comum, do “bem viver – bem conviver” proposto pelos povos indígenas.

Por citar alguns elementos deste Kairós amazônico que podemos identificar nestes últimos anos:

A eleição do próprio Papa Francisco (2013) é um sinal que marca um novo tempo eclesial. Uma Igreja que tenta voltar a ser pobre e simples, profética e audaz, que caminha com os “feridos” e “descartáveis”, uma Igreja “hospital de campanha”, com missionários e missionárias com “cheiro de ovelha” que lutam e arriscam por defende-las dos “lobos”. Uma Igreja que volta a centrar-se no Evangelho de Jesus, no Reino de Amor e Justiça, no perdão e na misericórdia de Deus, no compromisso radical com os pobres e marginalizados, prediletos do Pai.

A exortação Evangelii Gaudium (2013), recupera a dimensão missionária, uma “Igreja em saída”, desinstalada, que sai de sua zona de conforto, que é e gera “comunidade no caminho”, que vive “uma intimidade itinerante” e uma “comunhão missionária(EG 23).

Destaque para a ATUAÇÃO DOS FIÉIS LEIGOS na sua vocação e missão na Igreja e no mundo, como luz e sal da terra.

É necessário ter sempre em mente que a missão é o próprio modo de ser de Deus. De fato, na vida íntima da Trindade, Deus envia e é enviado. A Igreja não tem uma missão, mas ela nasce da missão de Deus e colabora com a missão de Deus. Nisto consiste a sua mais alta vocação e a razão de seu existir. O Prefácio dos Apóstolos II expressa bem tal verdade, quando afirma: “Vós constituístes a vossa Igreja sobre o alicerce dos Apóstolos, para que ela fosse, no mundo, um sinal vivo de vossa santidade e anunciasse a todo o mundo o evangelho da salvação”. Na igreja, todos os membros de Povo de Deus, em virtude do batismo, são inseridos na mesma missão de Cristo e, portanto, são chamados a estar na vanguarda da evangelização.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Participando no dia 19 de Outubro de 2019, da reunião do CONSELHO DE PASTORAL PAROQUIALe também da reunião de repasse com a COMISSÃO DE TRANSIÇÃO da Paróquia São Norberto (23/10/19), pude constatar, de uma maneira geral, o queo documento de Aparecida trata quando fala das paróquias (nº 170-177 e tb os nºs 304-306). Ou seja, Paróquia, como “espaço da iniciação cristã, da educação e celebração da fé, aberta à diversidade de carismas, serviços e ministérios, organizada de modo comunitário e responsável, integradora de movimentos de apostolado já existentes, atenta à diversidade cultural de seus habitantes, aberta aos projetos pastorais e supra-paroquiais e às realidades circundantes”.

A paróquia tem vários rostos (ou perfis) diferentes, cada comunidade com sua especificidade, com seus desafios, tanto na área urbana como na área rural. A pluralidadeé nossa riqueza, a busca de unidade nessa diversidade, eis o nosso desafio.

É com alegria e entusiasmo que assumo esse ministério pastoral, tendo consciência de que sou mais um, nesta engrenagem, mais um que fará parte da bonita história desta paróquia que, desde sua instalação em 17 de Janeiro de 1982, contando com o dinamismo de Pe João Batista Lopes (seu 1º pároco) e seus sucessores, a saber: Pe Toninho Galvão e Pe Dalvinei de Jesus, vem sendo “um espaço privilegiado no qual a maioria dos fiéis tem uma experiência concreta de Cristo e a comunhão eclesial”.Uma paróquia que tem por vocação e inspiração do seu padroeiro, ser “casa e escola de comunhão” eque vem produzindo, neste sentido, muitos frutos para o Reino. Tenho consciência de que estou assumindo tal missão como membro do Priorado e em nome do mesmo.

Tenho, dentre outras coisas, a missão de coordenar, de animar a todos, movido pelo espírito de Jesus, Servo e Bom Pastor, que deu sua vida por nós.

 Vamos, portanto, construir juntoso Projeto de Deus, dentro da perspectiva de Pastoral de Conjunto, em sintonia com a caminhada pastoral da Arquidiocese de Montes Claros, em profunda comunhão com nosso Arcebispo Metropolitano, Dom João Justino de Medeiros Silva.

Conto, alémda paciência e compreensão de todos para comigo, nesta minha fase de adaptação à esta nova realidade, com a participação dinâmica de todas as comunidades e suas respectivas lideranças, coordenações, movimentos, grupos, pastorais, associações, juntamente com os vigários paroquiais (Côn. João Batista, Côn. Elâneo Clay, Côn. Hermando José, Côn. Roney, Côn. Andrés, Côn. José Maria), inspirados na vivência das primeiras comunidades cristãs, que “viviam num só coração e numa só alma” e tendo como pano de fundo o princípio norbertino: “Prontos para toda boa obra”.

Conto com a graça de Deus, com a intercessão de Nossa Senhora das Graças e São Norberto com meus co-irmãos do Priorado no exercício desta missão de pároco, cheio de esperança e amor, rumo ao jubileu dos 900 anos de existência da Ordem de São Norberto.

Reitero meus agradecimentos a todos pela participação neste evento significativo, neste dia memorável, de maneira especial: Dom João Justino, os co-irmãos do Priorado, aqui presentes: Côn. Prior Michel Valério, Dom Paulo Meyfroot, Abade Emérito de Tongerlo, e demais confrades, Noviços, Professos Simples e meus parentes (meu pai Joaquim, as sobrinhas: Gisele Thaís, Samira e Henrique) e demais amigos.

Termino esta mensagem referindo-me ao versículo 36, do capítulo 11, da carta de São Paulo aos romanos, da 1ª leitura da liturgia desta celebração, com a consciência de que:

“NA VERDADE, TUDO É DELE, POR ELE E PARA ELE. A ELE, A GLÓRIA PARA SEMPRE. AMÉM! ”

Montes Claros, 04 de Novembro de 2019 – Memória de São Carlos Borromeu.

Nossa Senhora das Graças e São Norberto, Rogai a Deus por nós!

Côn. Oswaldo Gonçalves Vieira OPraem

Pároco da Paróquia São Norberto

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